Pedras, joias e energia: a história da marca “Zambi”

Pedras, joias e energia: a história da marca “Zambi”

O ateliê é iluminado por grandes janelas. Uma ametista pende sobre a mesa de trabalho e a designer de joias Jéssica Americano explica que a pedra está ali para filtrar as energias do ambiente. Alguns cristais absorvem a luz na soleira, enquanto outros estão na mesa, ladeados por objetos exotéricos e ferramentas. Jéssica conta que o nome “Zambi” surgiu quando ela visitou um centro espírita e conversou com um caboclo, que disse que lhe daria o nome. “No dia seguinte eu acordei com uma mensagem de um amigo falando ‘é Zambi! Tem que ser Zambi!”, conta emocionada. Ela explica que “Zambi” é o Deus na Umbanda e significa luz. “É um nome africano, é muito lindo, tem muita força. Não é ninguém, é uma energia muito forte.”

Fazendo joia, Jéssica se aproximou de sua espiritualidade. Para ela, isso reflete no trabalho: “A minha forma de fazer joia é muito diferente, é muito minha, é muito eu aqui, o ateliê e tudo que acontece. Por isso que às vezes eu acendo uma vela, um incenso, eu sempre estou lavando a minha mão, porque a energia da água também é muito importante, e tem toda essa simbologia. Com as pedras é a mesma coisa. Cada pedra tem uma ação, então eu aprendi a observar mais a natureza e o universo”, explica.

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No atelier, ferramentas de trabalho dividem espaço com objetos exotéricos. Foto: Isabela de Magalhães

Jéssica conta que o ofício de fazer joias entrou na vida dela por acaso. “Eu comecei a estudar moda na faculdade mas não gostei muito do curso. Me deu na cabeça de começar a fazer joias. É uma coisa que eu admiro muito desde criança.Comecei a aprender joia no Rio, sem achar que viveria disso. Me apaixonei.” Entre suas referências, ela destaca o trabalho do chileno Jorge Roa, com quem fez outro curso. “Ele tem uma pegada diferente, me passou muito do estilo que eu tenho, mais América do Sul. A gente ficava fazendo joia o dia inteiro no atelier. Ele me levava no jardim e falava: ‘olha essa folha, essa folha dá um bracelete.’

Para produzir as joias, a designer afirma que não consegue seguir sempre o mesmo método. “Estou sempre testando coisas novas para ver o que funciona melhor, cada dia eu faço de um jeito. Até desenho algumas coisas, mas prefiro olhar para os materiais e começar a mexer neles até ver o que sai”. Sobre a relação com seus clientes, ela revela: “Normalmente as pessoas se abrem muito facilmente sem nem me conhecer, elas chegam falando ‘nossa, eu preciso disso, estou mal por causa disso, me ajuda, preciso de uma pedra.’”

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Jéssica Americano (foto) começou a fazer joias por acaso e se apaixonou. Foto: Isabela de Magalhães

Para Jéssica, não é só a energia da pedra que conta, mas todo o processo interfere na energia da joia em si. “Eu só faço joia quando eu estou em paz, bem, e as pessoas realmente me procuram quase como uma psicóloga, me contam o que está acontecendo na vida, e para mim é uma responsabilidade ouvir isso tudo.” Ela procura ajudar não só na joia, mas também aconselhando com outras coisas que as pessoas podem fazer, indicando pedras para serem usadas também no ambiente.

A designer diz que o processo de criar sob encomenda é diferente. “Tem cliente que fala assim “faz o que você quiser” e aí eu me solto e faço a joia. E tem cliente que fala “ah eu quero assim, assim, assim”, com todos os detalhes, aí é mais complicado. Por mais que você tente fazer uma coisa programada, de repente vira outra.” Mas, para ela, todo o processo de se trabalhar com joia é mágico.

Saiba mais: confira a matéria também na Revista Moda Sem Sacola.

Roupa feita de roupa: conheça o upcycling

Grande parte da poluição causada pela indústria da moda vem do desperdício de matérias primas e da quantidade de lixo gerada com o descarte de roupas. Estima-se que um caminhão cheio de sobras de tecido seja queimado ou jogado fora a cada segundo. Uma alternativa que contribui para a redução deste problema é o upcycling, modelo de produção que propõe o reaproveitamento de tudo o que é produzido. O objetivo é evitar o desperdício de materiais úteis, reduzindo o consumo de novas matérias-primas durante a criação de produtos e o consumo de energia, a poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa.

Criações de Ana Cláudia Vidgal, designer que desenvolveu uma coleção inteira com aproveitamento de refugo têxtil. Foto: Isabela de Magalhães
Criações de Ana Cláudia Vidgal, designer que desenvolveu uma coleção inteira com aproveitamento de refugo têxtil. Foto: Isabela de Magalhães

O upcycling pode ser feito por meio da ressignificação de peças já existentes, pelo aproveitamento de materiais que seriam descartados ou mesmo pelo uso das sobras da confecção do vestuário. O termo não é um sinônimo de reciclagem: na verdade é visto como uma evolução do conceito da continuidade do ciclo de vida de um produto. O processo de reciclagem envolve processos químicos, o upcycling não.

A primeira vez em que o termo foi usado foi em 1994, por um empresário alemão chamado Reine Pilz. Mas foi em 2002 que o “upcycling” apareceu em um livro (Cradle to Cradle) e ficou mais conhecido pelo público. Nos últimos anos, com o “boom” da busca pela sustentabilidade e da tomada de consciência na moda, o termo tem ganhado destaque e provocado o surgimento de marcas voltadas para esse segmento.

Economia Circular

O upcycling é um método que se aproxima do conceito de economia circular. A economia linear, que é a praticada normalmente, é estruturada no processo de: extrair > produzir>descartar. Esse sistema é baseado em recursos finitos. A longo prazo, isso acarreta no risco do esgotamento das matérias-primas e custos cada vez mais altos em sua extração. A economia circular, por sua vez, mantém em circulação os recursos que extraímos e produzimos. Com isso, o destino final de um material não é uma questão de gerenciamento de resíduo, mas sim do processo de design. Nessa cadeia, o design é capaz de dar novo significado ao que poderia ser visto como lixo, ou até mesmo desenvolver produtos que não gerem desperdício. O principal é eliminar o conceito de lixo, pensando em uma cadeia que preserve o valor de todos os materiais.

Revista Moda Sem Sacola

Saiba mais sobre o Upcycling na seção Re-cycle, com as matérias: Roupa Feita de Roupa e Upcycling de Café. Acesse a nossa revista clicando aqui.

Entre história, propósito e afeto: confira a primeira edição da Revista Moda Sem Sacola

Carta da editora:

A primeira “personagem” que conheci para a produção desta revista foi a Jéssica, da marca Zambi. Não podia ter sido diferente. Naquele dia, ela me contou que o nome “Zambi” significa luz. Após nossa conversa, me senti inspirada e iluminada para tudo o que viria nas próximas semanas: aprendi sobre tingimento natural, sobre como é ter um brechó, sobre a vida de quem vive do trabalho artesanal.

Conheci pessoas preocupadas com o meio ambiente e com a representatividade de outras pessoas. Aprendi que o macramê é feito com dois nós, mas que esses nós podem unir muito mais do que linhas, podem unir amigos. Descobri que, entre as texturas dos tricôs, é possível encontrar infinitas camadas de histórias e que qualquer peça de roupa daria um livro cheio de memórias.

Buscando iniciativas que promovem o consumo consciente, a moda artesanal e a desaceleração, encontrei pontos de luz espalhados por toda Juiz de Fora: passei por São Pedro, Alto dos Passos, Paineiras, Bairu, Fábrica, Vitorino Braga e Graminha. Ao final dessa tragetória, nasce a “Moda Sem Sacola”, um espaço criado para contar essas histórias.

E que, com a “Moda Sem Sacola”, surjam novos pontos de luz; que as histórias aqui contadas te inspirem da forma que me inspiraram.

Para ler a revista, é só clicar aqui:

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Com carinho,

Isabela de Magalhães.