O que é moda?

Moda é muito mais do que um objeto de consumo: é criação, memória, identidade, política, discurso, arte, comunicação. Não cabe na sacola.

Foi com o pensamento acima que surgiu o nome desse blog, “Moda Sem Sacola”. Eu sempre me interessei por moda, mas principalmente pela multiplicidade de sentidos que ela tem. Com origem do latim modus, que significa maneira, a moda é inicialmente denominada como um modo individual de fazer, ou uso passageiro de determinada forma. Maneira de ser, modo de viver e se vestir, como afirma a autora Renata Pitombo Cidreira no livro Os Sentidos da Moda.

Joguei a pergunta “O que é moda?” lá no Instagram e a resposta que mais se repetiu foi que moda é expressão. Acho essa definição ótima, porque cada roupa que adotamos está ligada a certos aspectos do comportamento e da nossa personalidade, e, ao mesmo tempo, expressa muitas histórias além da nossa própria, comunicando sobre a época, grupo ou até mesmo sobre o designer responsável pela criação da peça.

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De acordo com o livro História Social da Moda, da autora Daniela Calanca, “com o termo ‘moda’ entende-se, especificamente, o fenômeno social da mudança cíclica dos costumes e dos hábitos, das escolhas e dos gostos.” Podemos dizer que existe moda quando o “amor pelo novo” se torna um hábito, uma exigência cultural. O conceito de moda não diz respeito somente às roupas, mas a todos os meios de expressão e transformação do homem.

A roupa como segunda pele

A vestimenta é uma das muitas modalidades de interferência sobre o corpo. Quando nos vestimos, criamos a partir do que é natural, expondo o corpo a um tipo de metamorfose. Transformando esse corpo, a roupa age como uma segunda pele, adaptável à nossa vida e funções que desempenhamos.

Como pontua Renata Pitombo Cidreira, “A indumentária funciona, muitas vezes, como uma máscara, permitindo-nos incorporar vários personagens, fazendo-nos atuar conforme o figurino.” Para exemplificar, eu penso na sensação de usar um vestido longo, formal, com sandálias de salto-alto, algo que é distante da minha rotina: enquanto tento me equilibrar no desconforto dos saltos, curto a sensação de me sentir uma princesa com o vestido esvoaçante. O traje de festa, na minha vida, é uma máscara que gosto de experimentar de vez em quando.

Isabela de Magalhães
Eu em uma das roupas mais especiais do meu armário ❤

Portar uma vestimenta é um ato de significação muito além do pudor, proteção ou adorno. A indumentária e a moda podem refletir, reforçar ou disfarçar sentimentos. São modos pelos quais podemos nos diferenciar e declarar as nossas singularidades.

 

Roupa feita de roupa: conheça o upcycling

Grande parte da poluição causada pela indústria da moda vem do desperdício de matérias primas e da quantidade de lixo gerada com o descarte de roupas. Estima-se que um caminhão cheio de sobras de tecido seja queimado ou jogado fora a cada segundo. Uma alternativa que contribui para a redução deste problema é o upcycling, modelo de produção que propõe o reaproveitamento de tudo o que é produzido. O objetivo é evitar o desperdício de materiais úteis, reduzindo o consumo de novas matérias-primas durante a criação de produtos e o consumo de energia, a poluição do ar e da água e as emissões de gases de efeito estufa.

Criações de Ana Cláudia Vidgal, designer que desenvolveu uma coleção inteira com aproveitamento de refugo têxtil. Foto: Isabela de Magalhães
Criações de Ana Cláudia Vidgal, designer que desenvolveu uma coleção inteira com aproveitamento de refugo têxtil. Foto: Isabela de Magalhães

O upcycling pode ser feito por meio da ressignificação de peças já existentes, pelo aproveitamento de materiais que seriam descartados ou mesmo pelo uso das sobras da confecção do vestuário. O termo não é um sinônimo de reciclagem: na verdade é visto como uma evolução do conceito da continuidade do ciclo de vida de um produto. O processo de reciclagem envolve processos químicos, o upcycling não.

A primeira vez em que o termo foi usado foi em 1994, por um empresário alemão chamado Reine Pilz. Mas foi em 2002 que o “upcycling” apareceu em um livro (Cradle to Cradle) e ficou mais conhecido pelo público. Nos últimos anos, com o “boom” da busca pela sustentabilidade e da tomada de consciência na moda, o termo tem ganhado destaque e provocado o surgimento de marcas voltadas para esse segmento.

Economia Circular

O upcycling é um método que se aproxima do conceito de economia circular. A economia linear, que é a praticada normalmente, é estruturada no processo de: extrair > produzir>descartar. Esse sistema é baseado em recursos finitos. A longo prazo, isso acarreta no risco do esgotamento das matérias-primas e custos cada vez mais altos em sua extração. A economia circular, por sua vez, mantém em circulação os recursos que extraímos e produzimos. Com isso, o destino final de um material não é uma questão de gerenciamento de resíduo, mas sim do processo de design. Nessa cadeia, o design é capaz de dar novo significado ao que poderia ser visto como lixo, ou até mesmo desenvolver produtos que não gerem desperdício. O principal é eliminar o conceito de lixo, pensando em uma cadeia que preserve o valor de todos os materiais.

Revista Moda Sem Sacola

Saiba mais sobre o Upcycling na seção Re-cycle, com as matérias: Roupa Feita de Roupa e Upcycling de Café. Acesse a nossa revista clicando aqui.

O que é o Slow Fashion?

Mudanças na tecnologia, telecomunicações, globalização e transformações nos métodos de produção estão entre os fatores que provocaram uma progressiva aceleração do tempo desde os anos 1950, fortalecendo a ideia de efemeridade na indústria da moda. Essa indústria, junto com o capitalismo, criou ao longo dos anos um padrão de consumo que tem como base o tripé: baixo custo de produção, rápida distribuição e preços atrativos.

O apelo ao consumo frenético através da lógica do Fast Fashion fez com que sua cadeia produtiva alcançasse um patamar desumano. Tragédias ambientais e humanas causadas pela exploração dos recursos têm feito parte do cotidiano dos noticiários, o que reforça a necessidade de repensar as formas de produção e consumo atuais.

O movimento Slow Fashion congrega um conjunto de pessoas que defendem valores de empatia e ecologia, surgindo contra as formas de produção que visam à eficiência para o crescimento econômico rápido. É também possível encontrar a definição de que o Slow Fashion é um movimento que fortalece a conexão do consumidor com a roupa e com seus designers, incluindo valores de comunidade e diversidade.  

Ao contrário do que pode parecer à primeira vista, a “moda lenta” não é exatamente sobre a velocidade da produção ou do consumo. Esse “lento” do Slow diz respeito muito mais à uma valorização do tempo do que a tomada de um longo tempo para a realização de algo. Baseado no fazer manual, na produção local, na reutilização de peças e na confecção em escala reduzida, o Slow desperta para o consumo consciente de moda. Ao contrário do Fast Fashion, a moda lenta prioriza a qualidade antes da quantidade, valorizando a  moda ética, ecologicamente correta, transparente e criativa.

Larissa Portela usa: vestido feito de refugo nas cores preto, azul, branco, cinza. Bordado na gola com contas azul escuro. Por cima, poncho na cor creme. Anel em um dos dedos. A modelo está com a cabeça inclinada sobre os ombros, olhos fechados.
Larissa Portela usa: vestido Ana Cláudia Vidgal, poncho e anel – Rata de Brechó. Foto: Isabela de Magalhães